Woodstock, o Festival que mudou o mundo

Os anos 60 carregavam uma energia única. Foi uma década em que a juventude e a música estavam quebrando padrões e criando novas formas de expressão. Os saraus nos ginásios das escolas viravam verdadeiros centros culturais improvisados. A TV criava ídolos ao vivo com programas como o Ed Sullivan Show nos Estados Unidos, ou a nossa querida Jovem Guarda aqui no Brasil, que levou o rock nacional para a casa de todo mundo. Era um tempo de experimentação total, com tecnologia, comportamento e arte andando de mãos dadas.

Nesse cenário cultural, os festivais começaram a virar muito mais que simples shows: eram encontros sociais, quase rituais coletivos. O Monterey Pop Festival, em 1967, foi um divisor de águas ao mostrar que um festival ao ar livre poderia ser organizado sem fins lucrativos, só pela música e pela experiência. O impacto foi imediato, logo surgiram outro eventos, como o Miami Pop Festival em 1968 e o Atlanta International Pop Festival em 1969 e 1970. Mas nenhum deles seria lembrado com tanto peso quanto aquele que virou sinônimo de contracultura: o Woodstock Music & Art Fair, ou simplesmente Woodstock, de 1969.
O plano inicial era modesto: os organizadores planejaram o evento como um empreendimento lucrativo e venderam ingressos antecipadamente por US$ 18. No entanto, devido à grande quantidade de pessoas que compareceram e à dificuldade em controlar o acesso, o festival acabou se tornando gratuito para muitos, foram entorno de 400 mil pessoas que compareceram.

Carros largados nas estradas, trânsito parado por quilômetros, pouca comida e uma estrutura que desabou antes mesmo da primeira nota ser tocada. O terreno virou lama após uma chuva no local, mas as fotos mostram a galera sorrindo, se abraçando, dividindo cobertores, comida e até roupa. Aquilo não era só um festival; parecia uma pequena vila temporária com suas próprias regras, onde a paz e a solidariedade, mesmo que improvisadas, valiam mais que qualquer problema.

Nos bastidores, a história era igualmente intensa. Vários artistas quase não chegaram na hora por causa do trânsito caótico; outros tocaram sem receber um cachê, porque acreditavam que estavam fazendo parte de algo maior. E estavam mesmo: Woodstock virou símbolo da contracultura e fortaleceu o movimento hippie, que pregava paz, amor e uma vida longe do consumismo e da violência. Tudo isso enquanto os Estados Unidos viviam uma guerra no Vietnã e enfrentavam tensões raciais, políticas e geracionais.
A line-up foi um capítulo à parte: Jimi Hendrix protagonizou um dos momentos mais icônicos da história da música ao transformar o hino americano num grito distorcido contra a guerra; Janis Joplin, visceral e hipnotizante, consolidando seu posto de "rainha do rock"; Santana, ainda pouco conhecido, mandando uma das apresentações mais aplaudidas do festival; The Who, Joe Cocker, Joan Baez, Creedence Clearwater Revival e Crosby, Stills, Nash & Young, entre muitos outros. Cada show tinha um peso próprio, como se cada artista soubesse que aquilo não era só mais um show da turnê, mas um capítulo da história.
Hino nacional dos EUA, por Jimi Hendrix, Woodstock - 1969.
O filme Woodstock (1970), de Michael Wadleigh, eternizou o evento e ganhou um Oscar. Indo além de um documentário, ele mostrou que o evento não foi só sobre música, mas sobre um jeito de viver, uma experiência coletiva que parecia impossível até então: centenas de milhares de pessoas juntas sem violência, compartilhando tudo que tinham.
Posteriormente, surgiu outras edições, em comemoração dos 25 anos, 250 mil pessoas se reuniram no Woodstock 94′ em Saugerties, Nova Iorque. Contou com bandas como Aerosmith, Red Hot Chili Peppers e Green Day. No ano de 1999, ocorreu uma nova edição, mas devido a destruição das grades, atos de violência e tumultos durante shows de Limp Bizkit e Kid Rock, não houve continuidade nos anos posteriores e seu tema “Festival da Paz e Amor” foi questionado.

No fim das contas, Woodstock de 1969 foi muito além de um simples festival. Virou um marco cultural, um momento em que música, juventude e questionamento social se fundiram numa coisa só. Foram três dias em que a realidade ficou em suspensão: música ecoando sobre um mar de lama, pessoas que nunca tinham se visto antes cuidando umas das outras e um ideal de paz que, mesmo passageiro, mostrou sua força. Até hoje, pensar em Woodstock é lembrar daquele momento em que uma geração inteira teve coragem de acreditar que um mundo diferente era possível, mesmo que por um momento.









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