Sampaio Corrêa e a Torcida do Reggae
Entre batuques, bandeiras e a cadência de um ritmo caribenho, o time e sua gente criaram uma identidade única no futebol brasileiro.

O Maranhão é um território onde a cultura vibra em camadas, tem bumba-meu-boi, tambor de crioula, azulejo português nas fachadas coloniais e, nos últimos 50 anos, um som que atravessou o Atlântico para se instalar como se fosse da terra. O reggae, nascido na Jamaica, encontrou no estado um público tão fiel que São Luís ganhou o apelido de “Jamaica Brasileira”. É nessa atmosfera que entra o Sampaio Corrêa Futebol Clube, o time que carrega a identidade do reggae na arquibancada.
O Sampaio Corrêa foi fundado em 25 de março de 1923, batizado com o nome de um hidroavião que fazia viagens pela costa brasileira. O verde, o amarelo e o vermelho do uniforme carregam as cores da bandeira boliviana, o que rendeu ao time o apelido de “Bolívia Querida”. Ao longo de sua história, o clube se firmou como o mais tradicional do Maranhão, acumulando títulos estaduais, conquistas nacionais como a Série B de 1972, a Série C de 1997 e 2012, e campanhas marcantes na Copa do Brasil.

Mas para entender o vínculo entre o Sampaio e o reggae, é preciso olhar além do campo.
Nos anos 70 e 80, o reggae já estava entranhado no cotidiano ludovicense. Rádios comunitárias, festas nos bairros e radiolas de vinil espalharam artistas como Bob Marley, Peter Tosh e Gregory Isaacs, ao lado de nomes jamaicanos menos conhecidos no resto do Brasil. O compasso arrastado e o contra baixo pulsante dialogavam com a dança colada típica dos bailes maranhenses.

Aos poucos, o ritmo começou a aparecer nas arquibancadas do Castelão. Torcedores levavam tambores, caixas de som e até pequenas radiolas para o entorno do estádio. O batuque do reggae se misturava às músicas de incentivo ao time, criando um ambiente diferente de qualquer outra torcida no país. Em vez de marchinhas aceleradas de torcida organizada, o ritmo era cadenciado, com coro forte e refrões que lembravam mais um baile popular do que um jogo de futebol.
A “torcida do reggae” virou marca registrada do Sampaio Corrêa. Mais do que estilo musical, o reggae no Maranhão é expressão de identidade, resistência e orgulho periférico. Incorporar esse ritmo na arquibancada significava reafirmar a cultura local diante de um futebol muitas vezes padronizado por sons e gestos de outros centros.

Não era incomum ver bandeiras do time com a face de Bob Marley estampada ao lado do escudo da Bolívia Querida. Camisas listradas nas cores verde, amarelo e vermelho circulavam nos jogos, mesclando símbolos do clube com elementos jamaicanos. Essa fusão fez nascer um imaginário próprio: o Sampaio não é só um time de futebol, é também um emblema da “Jamaica Brasileira”.
O auge dessa identidade cultural aconteceu em jogos decisivos, como a campanha do título da Série C de 2012, quando o Castelão recebeu públicos de mais de 40 mil pessoas embaladas pelo batuque. Nas ruas de São Luís, os dias de jogo eram como dias de festa popular: vendedores de vinil e CDs de reggae dividiam espaço com ambulantes vendendo camisas do Sampaio, e o som das radiolas se misturava ao burburinho pré-jogo.

Em 2014, com o retorno à Série B, a “torcida do reggae” ganhou destaque nacional. Reportagens mostravam a atmosfera única do Castelão: crianças dançando reggae nos intervalos, idosos com bonés do clube e da Jamaica, famílias inteiras vestindo as cores do time enquanto a batida compassada ecoava no estádio.
São Luís segue sendo a capital brasileira do reggae, e o Castelão, em dias de jogo do Sampaio, vira um dos palcos mais autênticos dessa cultura.
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