Enfim, chegamos.

No dia 29 de junho de 2025, a P. Andrade entra para a história como a primeira marca brasileira a se apresentar no lineup oficial da Paris Fashion Week, reconhecida pela Fédération de la Haute Couture et de la Mode. O desfile representa um novo patamar a ser atingido para a moda brasileira e uma previsão para os próximos anos, com reconhecimento global de uma proposta autoral, construída a partir de pesquisa e desenvolvimento do que é produzido e gerado aqui, tratado pelo próprio Pedro Andrade como um ciclo sustentável na moda onde todos envolvidos no processo, se beneficiam.

A grife é resultado direto do encontro entre Pedro Andrade, fundador da PIET, e Paula Kim, designer com passagem por marcas como Dior, Burberry e Tommy Hilfiger.

Pedro começou sua trajetória em 2012, com a criação da PIET em São Paulo. A marca ganhou relevância no streetwear brasileiro logo cedo, sendo uma das principais dessa primeira geração de marcas surgidas na primeira metade da década de 2010, chegou a ser premiada pela Vogue Italia como promessa da moda brasileira, e se tornou referência por colaborações com Nike, NBA, Swarovski, Asics e Converse.

Paula, formada pela Central Saint Martins, acumulou experiência em marcas como Dior, Burberry, Diane von Fürstenberg, Tommy Hilfiger e hoje lidera a Lapô, sua própria label de moda feminina sustentável. Com foco em inovação e sustentabilidade, Paula também atua como consultora e professora dentro do M.I.L. Workshops

Em conjunto, os dois encontraram a evolução de todas essas experiências e projetos, a P. Andrade, como um projeto-laboratório, um espaço onde poderiam testar processos, linguagens e tecnologias que ultrapassassem os limites das marcas anteriores.

O desfile de estréia em uma das matrizes da moda, intitulado “The Tree is Your Spine”, propõe uma narrativa baseada no corpo como estrutura espiritual e energética. A coleção é composta por bio-couro de cactos, tecidos com rastreabilidade via blockchain, tingimento com organismos vivos e modelagens que fazem referência direta à natureza, à ancestralidade e à ficção científica. O desfile conta com direção artística de Samuel de Sabóia, artista visual que já colaborou com ambos em outras iniciativas. Todo esse processo a ser apresentado já não é mais novidade para quem acompanha o trabalho de Pedro e Paula desde 2021, após desfile na Pinacoteca, uma coleção 100% inspirada na Amazônia, lançamento do Kayano 14 ao lado da Asics e diversas outras peças que ultrapassam a régua que temos hoje na moda Brasileira, não há como esperar nada menos do que uma pesquisa tremenda e a representação de sentimentos em uma coisa só.

“Sua contribuição imprime à coleção uma força simbólica única, que une espiritualidade, ancestralidade e futuro”, disseram os designers em nota à imprensa.

A aprovação da P. Andrade no calendário oficial da Paris Fashion Week veio de um caso engraçado, contado para a Vogue Brasil. Não é sabido pela maioria das pessoas do meio a dificuldade em acessar esses espaços, e o tempo que leva. Brevemente, após o desfile ocorrido com a KidSuper, uma pessoa ao conversar com Pedro, solicitou que a P. Andrade realizasse a inscrição na Federação. E levaram meses, o casal chegou a ter um bebê e Paula daria um hiato em sua carreira, porém, a mensagem de aprovação logo de primeira chegou. O projeto mostra consistência criativa, com temas urgentes do design contemporâneo como a sustentabilidade e um ciclo econômico, sem perder conexão com os códigos brasileiros. 

Além da estreia em Paris, Pedro Andrade mantém parcerias com marcas como Oakley, Puma e Levi’s, que estiveram presentes no último desfile da PIET na SPFW N59. A articulação entre marcas globais e criações independentes mostra que há uma estrutura sendo construída com base em intercâmbio e repertório.

A entrada da P. Andrade no circuito francês escancara uma ausência histórica: o Brasil sempre teve criadores potentes, mas raramente com estrutura, espaço e legitimidade para ocupar o centro do calendário global. Esse cenário ganha novos olhares com esse desfile.