O universo distópico criado por Leonardo Mendes através da EXO:DUS

Um papo com Leonardo Mendes, fundador e diretor criativo da EXO:DUS, sobre todo esse mundo pós apocalíptico desenvolvido pelo criador.

O universo distópico criado por Leonardo Mendes através da EXO:DUS

Em janeiro de 2022, éramos apresentados à EXO:DUS.

"Uma plataforma criativa recém-nascida visando explorar nossa distopia inevitável."

Desde então fomos introduzidos nesse mundo distópico, um universo que é criado fora da nossa linha do tempo atual e fora do usual, pensado e executado por Leonardo Mendes, proveniente de Vitória no Espírito Santo, que finca suas ideias e criações através da marca.

Com a primeira coleção de hardwares (nome que é usado para seus produtos físicos) desse ano, após os lançamentos de itens no verão como óculos EPI personalizados e um top de bikini jeans, EXO:DUS apresenta um mix de produtos diverso mostrados em um lookbook que reforçam a imagem distópica da marca. 

Próximo de uma nova coleção, lançada hoje, dia 10/07/2025, batemos um papo sobre todo esse mundo pós apocalíptico desenvolvido pelo criador. Leia a entrevista completa abaixo!


Quando você começou a criar? Sendo do Espírito Santo, de onde surgiu seu primeiro contato com a arte?

O motivo principal de eu ter caído nesse campo criativo foi a bagagem de vivências e referências que adquiri crescendo no meio da cultura, principalmente Hiphop.

Meu pai era muito envolvido com a cena original da minha cidade e trabalhou por anos com cultura, rappers, músicos, artistas, então meu cotidiano era ir a ativações culturais, shows, programas de rádio, reuniões, espaços políticos.

Era também a questão de ouvir alguém rimando, citando uma referência de um filme, de um artista, e ir cavando, cavando, para entender e apreciar mais esse universo que estava à minha volta.

Mas na questão visual mesmo eu caí por causa do graffiti, justamente por essa proximidade com a cultura hip hop.

Entre meus 14 e 17 anos, eu fiz parte de organizações e movimentos políticos, principalmente na luta pela redução das passagens e pedágios da minha cidade, nessa época pixava muitas frases políticas no meu bairro e aquilo evoluiu pra começar a assinar minhas tags.

Entrei de cabeça no mundo do graffiti e pelo desejo de fazer algumas artes gráficas do meu nome, aprendi a mexer nos programas de design, o que evoluiu naturalmente por uma paixão de criar designs, mesmo que não fossem de graffitis. Comecei com 17 anos fazendo encartes de supermercado e depois consegui um trampo em uma produtora de festas alternativas onde fazia de tudo: criava festas, fazia DJ sets, desenvolvia as artes, foi uma escola também.

Em paralelo a isso, comecei a trabalhar na High (fui a primeira pessoa a ser contratada lá), onde cooperei com o crescimento da marca e fui responsável pela criação de produtos por 12 anos, até o início de 2025.

Nesse momento você tinha quantos anos? E você já tinha desenvolvido alguma coisa relacionado a camiseta? Ou foi a HIGH sua primeira experiência? 

17 anos, e não, nunca tinha desenvolvido nada sério, no máximo mandava umas artes que fazia e um amigo dava um jeito de imprimir elas em umas camisetas lisas.

Mas a importância para mim foi a conexão que tive com a cultura. Sou fascinado por isso, para mim a rua é um espaço democrático. Querendo ou não, há uma pluralidade na rua, onde todos se entendem da mesma forma.

Mas de uns 5/6 anos eu tive a vontade de criar algo mais voltado pra minha essência.

Se fosse definir as principais inspirações e como conseguiu transformar elas na sua identidade para a EXO:DUS

Eu sempre admirei na arte a possibilidade de criar/imaginar universos diferentes e dar vida a eles. A EXO:DUS é isso, uma criação imersiva como se fosse um filme, um jogo, uma história, algo por aí. Trazer elementos de protestos, punk/hardcore, festas, rua foi natural.

De onde vem as aspirações estéticas da EXO:DUS? Os símbolos, os signos, valores, tudo que é representado nas peças?

Eu tenho uma visão de mundo muito politizada, cética, quase pessimista de certa forma e simplificando, infelizmente acredito que teremos um colapso social em poucos anos. A EXO:DUS é como uma mensagem vindo numa cápsula do futuro retratando o que nos espera.

Parte da imersão da marca é que todas nossas imagens ajudam a criar esse mundo distópico. E as roupas, os produtos, são como o figurino de toda essa história.

Acreditamos que após esse colapso, um dos recursos mais valiosos será a energia elétrica, então a gente sempre foca nisso de alguma forma.

A música eletrônica e a computação ocorrem através da manipulação da energia elétrica então faz muito sentido pra gente envolver esses elementos em nossa estética.

Registro da nova entrega da marca

Como surge a ideia para a criação de peças tão distintas e disruptivas das produções tradicionais?

É como se depois do colapso a gente só fosse ter a possibilidade de manipular energia em baixas tecnologias, voltando 60 anos no tempo e sendo obrigados a voltar pro analógico.

É uma distopia, bem mais algo como deu errado.

As coisas diferentes surgem do entendimento onde em um mundo com poucas possibilidades, onde você passaria por diversas situações extremas, você tem que estar preparado para isso. Eu acabo fazendo isso muito mais pela inspiração do universo do filme, do videogame, é como se fosse o figurino do filme, sabe? 

É um figurino, é um filme, um jogo, é uma história, as roupas são só parte disso. 

Foto retirada do lookbook da última entrega da marca.

Qual a importância dos posicionamentos políticos em meio à produção da marca? Como isso conversa com esse universo criado?

100% importante, a gente precisa quebrar essa coisa de ser isento que tem tomado conta da nossa cultura. E eu acho incomodar essencial, sem pé atrás de fechar portas, ter que ficar fingindo que tá tudo certo. Temos que ser vanguarda no pensamento crítico e nas atitudes também.

Os fatores que criam essa distopia são totalmente políticos e sociais, temos que fazer a nossa parte para evitar que isso se concretize.

Registro de um dos posicionamentos políticos

Sobre o drop atual, qual foi o ponto chave para a criação da estética e do que foi produzido?

A imagem que criamos pra esse lançamento é de um grupo de jovens ocupando um prédio abandonado, como se estivessem resistindo ali, reforçando esse universo distópico.

Se tratando de produtos, estamos lançando nossas primeiras "partes de baixo": uma bermuda com cortes angulares retos e adição de um suspensório personalizado com ilhós e também uma saia em duas partes unidas por 6 reguladores de cada lado, essa saia tem mais de 85 linhas de costuras desfiadas nela.

Exploramos bastante soluções diferentes para criação das peças dessa coleção, algumas das camisetas por exemplo passaram por um processo de pintura da estampa com pincel.

Como é esse processo manual em relação a produção? Vocês fazem aí no QG de vocês, ou tem alguém específico que faz? É um processo difícil ou já é algo mais tranquilo de fazer?

No começo foi mais difícil sair da caixa porque a minha escola até então era de produção em escala industrial, e eu queria manter distância disso sempre que possível.

Então eu fui atrás de quem poderia me ajudar com isso e achei o Arthur, que além de costureiro/modelista também é DJ, agitador cultural, então fez total sentido ter ele no time. Juntos a gente cria algumas peças do zero, mexe em outras, etc.

Com a EXO:DUS estou tendo que desconstruir muito do que aprendi na indústria pra fazer o que vai funcionar melhor pra marca, principalmente a longo prazo.

Só pra finalizar, a clássica pergunta, o que você vê daqui para frente ?

E Sendo sincero minhas aspirações não são mercadológicas, isso poderia ser só uma consequência.

Eu quero que as pessoas se engajem na idéia, entende?

A EXO:DUS é uma marca que vai adotar a filosofia Open-Source.

OpenSource é aquele conceito de programação, quando você cria um programa de código aberto a pessoa pode baixar ele e mexer, fazer a própria versão, etc.

Então, por exemplo, eu vou lançar essa bermuda, ela vai ser cara, muita gente pra quem eu gostaria que chegasse meu produto não vai ter condição de comprar ela.

Com isso, eu vou disponibilizar o projeto aberto da bermuda no meu site. A modelagem, a ficha técnica, esse tipo de coisa, de forma que se a pessoa quiser, ela pega e faz ela mesma a bermuda da Exodus. E eu quero espalhar isso para o máximo de produtos possíveis.

Eu gostaria de viver num mundo que não existe dinheiro. Só que essa não é a realidade. Então, eu quero que as pessoas, mesmo que elas não tenham a condição de comprarem meu produto de alguma forma, elas possam se engajar na ideia e se elas quiserem se identificar com a ideia e usar.


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