Música Negra Britânica: Jim Legxacy e o remix de rap, grime e drill
Num quarto escuro e apenas com um computador velho, Jim Legxacy cria uma música que pega a nostalgia dos anos 2000 e transforma em algo totalmente diferente. O som dele mistura tudo: emo, drill, afrobeats, samples de pop e beats que lembram videogame ou festa em porão. Com essa mistura toda, ele está reformulando a música negra britânica do seu jeito, usando suas próprias vivências e memórias.

Jim Legxacy cresceu em Lewisham, um bairro bem multicultural de Londres. Os pais dele são nigerianos, então ele cresceu no meio de duas culturas: a tradição oral africana e a energia do rap britânico. Desde pequeno, já gravava música em casa, experimentando sem regras. Foi assim que surgiram seus primeiros trabalhos, tipo o EP BTO! e o álbum Citadel, que ele lançou por conta própria entre 2020 e 2021.

Mas foi em 2023 que ele realmente se destacou com a mixtape Homeless N**a Pop Music. Nesse trabalho, ele junta os beats de Jersey club, refrões chiclete e até samples de Hannah Montana com o ritmo pesado do drill londrino. O título já mostra o que ele quer: falar sobre a diáspora, sobre ser jovem e negro, sobre sentimentos complicados, tudo sem seguir fórmula nenhuma.

Jim não gosta de ser rotulado. Ele já disse que "gênero nem existe de verdade" e defende uma música livre, que ele compara com "ar temperado". Dá pra ver isso nos lançamentos recentes. Em 2024, ele lançou Father e Aggressive, singles que misturam rap britânico clássico com aquele pop-punk dos anos 2000.

Em Aggressive, ele usa um sample de um hit de 2009 e dá uma cara nova pra música com letras pessoais e produção caprichada. Já Father pode se considerar mais reflexivo, falando sobre família, e tem um verso que resume bem o trabalho dele: "Black British music / We've been making asses shake since the Windrush" (Música negra britânica / Fazemos as pessoas dançarem desde o Windrush), uma referência direta à influência da cultura negra no Reino Unido desde o pós-guerra.
Em sua mais recente mixtape intitulada como "Black British Music" vai ainda mais fundo nessa proposta. É onde ele canta de coração aberto e expõe sua raiva. Tem guitarra de pop-rock, vocais lo-fi, colagens eletrônicas e participações importantes, como o rapper Dave.

Visualmente, o rapper é 100% influenciado pela nostalgia dos anos 2000. Um exemplo recente disso é a música "06 Wayne Rooney", que parece ter saído diretamente de uma trilha sonora do FIFA e acompanha um videoclipe que reinterpreta fielmente os visuais do game naquela época.
Tanto em seus clipes e em seus perfis das redes sociais, ele sempre usa a estética Y2K (imagens granuladas, estética de design frutiger aero, ícones pop do começo dos anos 2000) pra criar um contraste entre memória e atualidade. O que poderia parecer uma brincadeira acaba virando um manifesto. Ele reconstrói, com humor e sinceridade, o que significa ser negro, britânico e jovem em 2025.



Jim Legxacy é um rapper que sabe contar histórias e criar uma própria atmosfera entorno de si. O diferencial dele tá em juntar pedaços (emocionais, culturais, musicais) e transformar tudo isso em algo novo, pessoal e ao mesmo tempo coletivo. No fim das contas, a impressão que fica é que ele não tá só remixando gêneros musicais, mas também a própria ideia de identidade e pertencimento. Com ele, a música negra britânica ganha novas cores, texturas e vozes. E continua se reinventando.