Madlib: a mente por trás das produções, Quasimoto e sua imersão no Brasil
Poucos nomes foram tão importantes na formação da linguagem que hoje chamamos de rap alternativo quanto Madlib.

Nascido Otis Jackson Jr., filho de músicos, cresceu em Oxnard, na Califórnia, cercado por discos e instrumentos. Mas foi com a MPC, com o SP-303, com pilhas de vinil e pouco interesse pelo que estava sendo produzido, assim passou a nascer sua identidade. O lado sujo dos recortes e samples, a pesquisa interminável por novos discos e artistas desconhecidos,
O disco que colocou Madlib na linha de frente da revolução criativa do rap foi Madvillainy (2004), feito ao lado de MF DOOM. Um clássico.
Mas o que pouca gente sabe é que parte fundamental do disco nasceu no Brasil. Em novembro de 2002, Madlib veio ao país para uma palestra na Red Bull Music Academy, em São Paulo.
E foi ali, num hotel, com uma mpc um toca-discos, que ele construiu boa parte dos beats que mais tarde virariam “Strange Ways”, “Raid” e “Rhinestone Cowboy”.
Segundo o jornalista Jeff Weiss, da Pitchfork, Madlib ficou isolado no quarto, sampleando direto do que garimpava em sebos da cidade, “Sentou lá, fumou a erva péssima e ficou sampleando”.
Um mergulho sensorial que ajudou a moldar a estética de Madvillainy. A demo original do álbum chegou a ser roubada durante essa passagem, forçando Madlib e DOOM a retrabalhar parte do material, dando ainda mais urgência ao projeto.
E essa relação com o Brasil não parou por aí.
Em 2008, lançou Sujinho, álbum feito em parceria com o lendário baterista Ivan Conti, do Azymuth.
Latin jazz, samba, psicodelia e improviso, tudo costurado por cortes secos e colagens típicas da cabeça de Madlib. Também vale lembrar o volume #2 da série Madlib Medicine Show (“Flight to Brazil”), uma verdadeira mixtape documental com diálogos de aeroporto, falas em português, grooves regionais e trilhas que parecem mapas sonoros.


Só que o Madlib foi muito além, criou alter egos como Quasimoto, com voz acelerada e estética de desenho sujo, isso pois gostava de rimar mas não considerava sua voz das melhores, lançou álbuns como banda imaginária (Yesterday’s New Quintet), produziu discos inteiros para Freddie Gibbs (Piñata, Bandana), J Dilla (Champion Sound), M.E.D., Dudley Perkins, além de mixtapes e trilhas para filmes.
Entre 2002 e 2010, viveu talvez sua fase mais criativa.
Em Los Angeles, trabalhou com DOOM como se morassem num bunker. Enquanto DOOM escrevia versos em um canto da casa, Madlib vivia no quarto de produção, fumando e sampleando sem parar.
“Tudo foi espontâneo,” disse Madlib. “Trabalhamos com o que tínhamos à disposição. Se você pensar demais, não funciona. Mas as coisas geralmente funcionam quando você está com pessoas que pensam como você. DOOM é tipo meu primo superinteligente. A gente trocava livros e discos, equações do Sun Ra, biografias do Charlie Parker. Algumas pessoas simplesmente nascem com essa mesma energia.”

Lançou em 2021 o álbum Sound Ancestors, organizado por Four Tet, como uma espécie de museu particular. Batidas feitas nos últimos 20 anos, organizadas como capítulos de uma história que nunca foi escrita.
Hoje, nomes como The Alchemist, Knxwledge, Slauson Malone, Dibia$e, Mndsgn e até beatmakers do cenário experimental reconhecem a importância de Madlib, é necessário que reconheçamos também.









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