A Riqueza Cultural da Várzea pelas Lentes de Douglas Vieira.
Conversamos com Douglas Vieira, que nos contou sobre sua trajetória e experiências no futebol amador através de suas lentes.

É difícil apontar um único fundador para o futebol de várzea no Brasil, mas registros do final do século XIX já mostravam os primeiros jogos organizados no Campo da Várzea do Carmo, em São Paulo. Ali, imigrantes, afrodescendentes e operários foram essenciais para as primeiras partidas.
Com a expansão do esporte, o futebol se elitizou, migrando para áreas mais nobres da cidade e se afastando da várzea. Apesar disso, times e comunidades da periferia se multiplicaram por toda São Paulo, chegando a lugares como Mauá, onde pessoas como Douglas Vieira mantêm a essência dessa cultura até os dias atuais. Conversamos com Douglas, que nos contou sobre sua trajetória e experiências no futebol amador através de suas lentes. Confira a entrevista!
Qual foi o momento em que você percebeu que a fotografia seria a sua forma de se expressar?
Percebi que a fotografia era minha melhor forma de me expressar quando notei que, ao clicar uma cena, as pessoas entendiam, se incomodavam ou se emocionavam com aquilo. Ali entendi que essa era minha força, meu jeito de falar com o mundo sem precisar dizer uma palavra.


Reprodução/Instagram - @lentedavarzea
Fotografar um jogo de várzea é diferente do que se vê em outros jogos de futebol. Quais são as particularidades desse cenário que mais te desafiam e te inspiram artisticamente?
Fotografar a várzea é uma parada diferente, mano. Muito diferente de jogo profissional. Você tem que colar com respeito, com seu procedimento. Não dá pra chegar jogando a câmera na cara de um maloqueiro que nem sabe quem é você. Lá é família, é os mano do corre, é todo mundo junto, e pra mim, todo mundo é a mesma fita.
Só que tem que ter vivência, saber como chegar e como sair. É por isso que eu amo a várzea — é real, não é encenação, não é teatro de entretenimento. É onde o futebol ainda é por amor.


Reprodução/Instagram - @lentedavarzea
Em meio a cada imagem retratada nos jogos, qual é a emoção ou o sentimento que mais te gratifica? O que, no fundo, te faz sentir que seu trabalho realmente valeu a pena?
Eu gosto de fotografar o maloqueiro, tá ligado? Mostrar que ele é grande, que ele é arte. Vários manos já me deram um salve: “Carai, você postou uma foto minha, tô mó chave!” Teve uns que imprimiram, colocaram de perfil. Isso me pega. Fazer alguém se sentir bem, se enxergar de um jeito bonito, é foda. É gratificante demais.

Sobre o projeto “O som da Várzea” poderia nos contar sobre a jornada de sua criação? Desde a idéia inicial até a sua concretização, quais foram os maiores desafios e as maiores alegrias?
Sempre fui muito ligado à música e à favela, então o som sempre me prendeu no futebol. Comecei esse projeto só com uma câmera Canon M100 e a vontade de sair de um buraco. Tava me recuperando de um período de depressão, e essa parada me salvou. Até hoje salva. Quando decidi passar o filme na favela e vi as crianças me aplaudindo… mano, pqp… valeu cada esforço. É isso que faz tudo ter sentido.
Projeto 'O Som do Futebol Parte 1' Reprodução/Instagram - @lentedavarzea
O que mais suas obras revelam sobre as pessoas e o ambiente da várzea, além do jogo em si?
A várzea revela que cada pessoa tem uma história. E que todo mundo contribui com essa parada, não só o camisa 10. É o tio que organiza, é a tia que vende gelinho, é o mano que segura a faixa, é a criança gritando no alambrado. É um coletivo.
Existe algum projeto futuro que você está planejando ou sonhando em realizar?
Tô começando um projeto chamado “O Futebol é Arte, e vice-versa”, com artistas de várias quebradas — grafiteiros, b-boys, manos do rap, alguns até conhecidos. A ideia é mostrar que o futebol de várzea é cultura, é arte viva. Cada jogo é uma mixtape de sentimento, de expressão.









Coleção de imagens por Douglas Vieira.
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