Harry Jumonji - O verdadeiro OG

Harry Jumonji - O verdadeiro OG

Harry Jumonji é daqueles nomes que não aparecem com frequência nos resgates históricos feitos por aí. Mas deveriam. Um pilar vivo do skate de rua, da estética que conhecemos e consumimos e do comportamento que moldou a linguagem do streetwear antes mesmo do termo se consolidar, com uma história que poucos conhecem, primordialmente com um nível de influência diretamente na base de coisas.

Um exemplo? O brasileiro tinha um grande fã na Nova York dos anos 90, que talvez alguns conheçam. O jovem Basquiat. Desde a chegada às grandes metrópoles americanas, os vícios, o skate, e a redenção no Brasil, essa é uma história que deve ser contada.

Nascido em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, Harry cresceu cercado por mar e liberdade. Foi ali que o contato com o surf o moldou como ser humano e a se apaixonar por esportes. Ainda jovem, se mudou para Nova York com seu pai e logo após, indo sozinho para a Califórnia, e a rua passou a ser sua escola. Nesse momento, Harry já havia tido seu primeiro contato com o skate, o próprio conta que, ainda nas praias paulistas, foi em uma loja de surfe, e lá se deparou com uma revista com Jay Adams na capa. Ali foi o que chamamos de eureka, o grande estalo no subconsciente. Harry define como se fosse ter descoberto o spider man, ou então o Superman.

Pouco antes de sair do Brasil, alguns campeonatos de skate da época já tinham visto o caiçara de 13 anos ganhando, e desde então com um jeito único de ser.

No fim dos anos 70 e começo dos 80, enquanto o skate californiano ainda era centrado nas piscinas esvaziadas, na costa oeste, Harry e um grupo pequeno de skatistas da costa leste começaram a criar uma linguagem própria, o que viria a se tornar uma das primeiras “crews” de skate.

Na época, andar de skate em Manhattan não era exatamente o que se espera de um esporte. Era sobreviver à hostilidade da polícia, ao olhar torto de quem no centro de uma cidade como NY estava. Steve Olson, Christian Hosoi, Peter Bici, Beastie Boys, James Jebbia e outros nomes da época reconheciam em Harry já um “OG”, como se aquele local fosse feito para ele.

Pouco se fala, mas muito da essência que fez da Supreme o que ela é hoje passou pelos passos de Harry Jumonji. Há inclusive uma história de que o nome da marca foi dado em homenagem ao OG, que na época estava preso. Porém, histórias são histórias, precisaríamos de uma comprovação do próprio para afirmar essa informação passada por aí.

Muito antes da loja se tornar o símbolo global de desejo, Harry frequentava a Supreme quando aquilo ainda era só uma pequena loja na Lafayette Street, e a conexão com nomes como Peter Bici, Jeff Pang e o próprio James Jebbia era direta. Muito do que se tornou identidade visual da marca foi absorvido daquele grupo que ele fazia parte. 

“Eles falaram que se não fosse por mim, não existiria nem Zoo York nem Supreme. Nos anos 80, pô, só tinha uns cinco caras que sabiam fazer street…Na frente da Supreme, os moleques ficavam ali enrolando blunt, maconha, sem dinheiro pra comprar cerveja, maloqueiragem. Aí eu fiz um comercial da Levi’s e fui lá, nossa, dei dinheiro pra todo mundo. Dez anos depois, os caras viraram profissionais, e sabe o que eles fizeram? Eles lembraram. Então, é aquele cara que você dá o shape pra ele e o cara retribui. Não tem como pagar essas coisas.”

Com o tempo, os problemas chegaram. Drogas, prisão, sumiço. Ele mesmo conta na entrevista à VICE que ficou 17 anos sem andar de skate. Viveu nas ruas, passou por instituições, enfrentou o abandono, até decidir voltar. Passou um tempo em Porto Alegre, reatou com as raízes, primordialmente, com sua família, que hoje é 100% do seu foco.

É necessário manter a chama de personagens assim sempre acesa, nunca deixar cair no esquecimento tão comum das redes sociais uma pessoa que tem uma história digna de filme. 

Fica aqui também a recomendação pela busca do documentário feito sobre a sua vida do brasileiro, o longa OG: The Harry Jumonji Story, disponível na Amazon Prime e no Youtube.


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