A nostalgia para a geração Z
Chegamos no primeiro momento em que a geração Z sente nostalgia.

Olhar para trás tem se tornado estética, linguagem, uma primeira representação da juventude de um grupo que hoje tem de 20 a 30 anos. E mais especificamente para aqueles que têm as primeiras lembranças como a Copa de 2010, o design presente nos jogos e menus da época, essa geração está sendo alvo dos primeiros movimentos nostálgicos.


Hub tradicional do Xbox360 & Pênalti icônico cobrado por Loco Abreu na Copa do Mundo de 2010.
Quem nasceu nos anos 2000 cresceu com tudo acontecendo ao mesmo tempo: TV a cabo, internet chegando em seus primeiros locais, DVD pirata e o fim das lan houses, as primeiras redes sociais dividindo espaço com o MSN. A infância teve som de Cartoon Network e barulho de botão do Play 2, depois, jogos como GTA V e Fifa 15. Registros esses de uma última geração que teve contato com brincadeiras de rua, costumes e padrões deixados por gerações oitentistas e mais antigas.
O que parecia trivial agora vira registro. E isso tem peso.
A Hypervenom, chuteira símbolo da década passada, reapareceu em 2025 como um artefato sagrado. Uma entrada direta no imaginário de quem cresceu sonhando em ter uma e se parecer com Neymar 2015. Esse talvez seja um dos grandes marcos para analisar a chegada de marcas criando movimentos e campanhas pensadas no consumo e nostalgia para os nascidos em 2000.
Campanha promocional de lançamento da chuteira com o brasileiro Neymar
No TikTok, jogos como Need for Speed Underground, Tony Hawk, clássicos no PS2, ou então a “última volta” no mapa de GTA V ganham recortes sentimentais.
A EA inclusive relançou ícones diretamente do Fifa 15 como Doumbia (quem sabe, sabe), Gervinho e Ibarbo.

Os recortes não são apenas estéticos, envolvem razões emocionais proveniente desse público.
A verdade é que talvez essa geração nunca tenha tido o direito de desacelerar. Cresceu no excesso, no fluxo ininterrupto de imagens, trends, timelines. Viveu a transição entre um tempo em que o consumo ainda era guiado por espera, desejo e permanência, para um novo momento onde tudo passou a ser descartável, imediato, performático, engendrado por uma lógica de consumo.
É improvável que, em meio a um momento onde tudo é consumido e se torna antigo em questão de poucos meses, memórias afetivas e traços identitários não sejam corroídos pelo ritmo. O risco de não deixar nada permanecer é justamente não deixar nada marcar. A própria construção imagética das coisas tem passado por um processo acelerado, onde símbolos, estéticas e discursos surgem e desaparecem antes mesmo de se consolidarem.
Não há tempo para criar vínculo, absorver ou ressignificar. Tudo passa, tudo é substituído. Essa lógica de urgência constante retira das imagens o poder de representar e das pessoas, o direito de se verem refletidas de forma consistente no que consomem.
No meio disso, muita gente só quis acompanhar, se encaixar, ser visto. Poucos conseguiram pausar e absorver o que, aos poucos, começava a chegar.
Ser nostálgico agora é quase um mecanismo de defesa para manter vivo as identificações e lembranças da época, que dado o contexto atual, podem ser esquecidos e levados com o tempo num estalar de dedos.









Coleção de referências visuais complementares ao texto.
Tem um projeto ou conteúdo que merece ser visto?