Estamos indo longe demais na utilização de IA's?

Na última semana, a DM9 perdeu um Leão de Bronze em Cannes por uso não declarado de inteligência artificial. A peça premiada foi desclassificada após a organização descobrir que boa parte da campanha havia sido criada com ferramentas generativas, sem que isso tivesse sido informado no processo de inscrição, portanto, invalidando o prêmio.
O episódio acendeu um debate que já está em curso há um tempo: até que ponto o uso de IA ainda pode ser considerado criação?

É necessário assumir que em paralelo, marcas e projetos independentes vêm usando a inteligência artificial como parte de potencialização da linguagem, e assumindo isso. A Provoke Arts, por exemplo, utiliza das ferramentas e de seus limites na produção estética, como o visualizer do projeto colaborativo entre os rappers G.A e Cjota. A Mad Enlatados também, que flerta com o grotesco nas produções, gerando uma estranheza proposital, assumindo a artificialidade como material narrativo. São iniciativas que não escondem o uso da IA, mas a integram como camada, como artifício visual. Algo que dialoga com a proposta criativa, sem se esconder atrás dela.
Visualizer - Indecisão G.A e Cejota / Feito 100% com Inteligência artificial.
O problema aparece quando tudo é feito pela máquina, e o nome que assina embaixo é de alguém que apenas digitou. Isso é criatividade? Ou talvez se trate de automatização em cima de uma estética agradável?
O uso da IA, por si só, não é o problema. A ferramenta pode ser útil, pode acelerar etapas, pode até abrir possibilidades técnicas e visuais antes inacessíveis. Mas se a sua função como criador está sendo substituída por comandos, o que sobra de autoral nesse processo?
Nos últimos meses, a internet foi inundada por conteúdos com a mesma aparência, ritmo e estrutura. Sejam os vídeos criados pela nova ferramenta do google, ou então textos com o uso mais do que excessivo de travessões e falas repetidas, sem muito aprofundamento. E não por falta de referência, mas por uma tentativa constante de produzir em escala, de impressionar pelo volume, pela agilidade.


Exemplo do uso da ferramenta de Ia do Google Gemini em obras históricas.
E para todo criador fica a questão, o quão útil está sendo o papel das inteligências artificiais na criação? Seria um uso em excesso ou, a busca por volume e criar com mais velocidade está ultrapassando os processos criativos naturais?
A questão, então, deixa de ser "como usar IA de forma correta" e passa a ser: quando é necessário abrir mão dela? Quando o processo exige pausa, reflexão, uma parte mais manual?
Tem um projeto ou conteúdo que merece ser visto?