O ano era 1999 e o DJ Patife fazia isso no vale do Anhangabaú.

No final dos anos 90, São Paulo testemunhou a chegada de um movimento musical revolucionário vindo de Londres: o Jungle e Drum & Bass.

O ano era 1999 e o DJ Patife fazia isso no vale do Anhangabaú.

Muito antes do hype das festas de Techno chegarem em SP, o movimento do Jungle e Drum & Bass, proveniente de Londres, aterrissou na capital paulista ao final da década de 90 e foi levado diretamente às periferias da cidade.

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Música Na Rua (Patife, Marky & Drumagick) Vale do Anhangabaú 1999.

As produções de DJ Marky, DJ Patife, Kaleidoscópio, Marcelinho da Lua e Max de Castro, a voz Fernanda Porto, festas como a histórica Vibe e Lov.e Club, tudo corroborou para uma estética única, que chegou a ser apelidada de “Drum n Bossa”.

DJ Marky - Produtor musical brasileiro de Drum and Bass.

Era uma mistura clara do que havia sido criado a partir do Breakbeat em Londres, com o que se consumia de música no geral aqui no Brasil.

Um bom exemplo de onde as produções chegaram? O movimento chegou a ter uma apresentação na TV Cultura, tocado por uma banda e acompanhado por Fernanda Porto.

Fernanda Porto/TV Cultura - 2003.

Algumas coisas explicam esse fenômeno.

A virada do milênio mexeu com a forma em que as coisas ocorreram por aqui.

Os computadores estavam chegando, era o primeiro momento em que estávamos importando artigos e cultura em uma escala maior comparado aos anos 80 e 90. A juventude da época estava sedenta por tudo novo que chegava, e por mais que pareçam polos completamente opostos, o hip hop e o jungle/drum n bass que chegaram nessa época, atingiam os mesmos públicos. 

A periferia de São Paulo, e consumidores de rolês ditos como “Underground”

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DJ Marky & XRS feat. Stamina MC – LK (Carolina Carol Bela) - Reprodução / Instagram - @dubplatesystem.

E o mais interessante de analisar é que, a cultura foi importada da Inglaterra, chegou em terrenos paulistas, e nós retornamos para o velho continente. Porém, com grandes nomes Brasileiros que foram condecorados como grandes expoentes do movimento no mundo inteiro.

Os já citados anteriormente Dj Patife e Dj Marky foram os principais a ultrapassarem essa barreira, com capas de revistas, episódios dedicados na icônica Boilerroom, residência em grandes clubs do mundo todo, e tudo que marcou época.

Spotify, redes sociais... e o início do fim?

Com a chegada de 2010, o movimento caiu. Sem explicações muito claras, mas que veio a se tornar tendência no mundo da música em um ambiente tão frenético com as redes sociais.

Porém, dias melhores sempre chegam. Após a pandemia uma série de eventos sinalizaram a revitalização do Drum and Bass no Brasil e no mundo.

Drum & Bass On The Bike: FRANKFURT - Reprodução / YouTube - Dom Whiting.

O retorno de grandes gravadoras na cena como a DNBB Records, V Recordings e Innerground, que haviam sido fundamentais nos anos de ouro do gênero, a presença de sets de DNB e Jungle em grandes eventos como a Boiler, DJ Marky & Friends e Drum & Bass On The Bike trouxeram uma roupagem nova ao meio.

O renascimento do Drum n Bass e do Jungle é global

Basta ver artistas da nova geração, como Jorja Smith, rimando sobre beats de Jungle, Drum n Bass e UK Garage em sets que rodaram o mundo.

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Jorja Smith & Nia Archives – Little Things (Remix) - Reprodução / Instagram - @dubplatesystem

Hoje, mais de duas décadas depois, o Jungle e o Drum & Bass não carregam mais o mesmo peso de tendência. Mas talvez nem precisem. O retorno recente de selos clássicos, o surgimento de novas festas e artistas que flertam com a linguagem dos anos 2000 indicam uma reconexão.

Há algo de cíclico na forma como esses sons voltam. Talvez não para ocupar os grandes palcos, mas para manter viva a linguagem dos clubes londrinos, algo como aquela marca de roupa que só quem está inserido na cultura sabe, o som mocado que só quem é sabe do que se trata.

A pergunta que fica não é se o drum n bass vai "voltar", mas de que forma ele continuará sendo reinterpretado por quem vive em meio essa cultura.

Indicação de documentário: Drum’n’Bass no Brasil - Dirigido por Fernanda Telles.


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