Como o local em que você vive influencia diretamente em sua criatividade?
O texto a seguir trata-se de um artigo de opinião e uma análise totalmente pessoal.

Em pleno inverno, resolvi ir para o Rio de Janeiro, eu e minha namorada. Destinados a ficar apenas um dia na cidade, no que seria minha primeira saída do estado de SP, minha primeira ida a um local completamente diferente do que habito e em que estou acostumado. E não poderia ser diferente.
Não imaginava o choque que apenas um único dia em uma cidade tão singular como o Rio poderiam causar. No entanto, em um momento da viagem acabei analisando tanto o que estava ao meu redor, a arquitetura, as roupas, os gestos, e cheguei à seguinte questão: Como o local em que você vive influencia diretamente em sua criatividade?

Retornei para o DDD 011 muito mais pensativo sobre como isso estava sendo imposto até mesmo onde eu morava, e nas pequenas distâncias entre cidades, regiões e bairros. Resolvi dar início a uma pesquisa sobre.
Tudo isso porque não só da natureza das coisas vive a criatividade. São Paulo, por exemplo, é uma cidade que tem sua história apagada, e destinada apenas ao crescimento e evolução tecnológica e industrial, tanto da própria São Paulo e sua região metropolitana como do ABC.
As escolhas dos homens influem totalmente nas necessidades e em como sua criatividade responderá a isso. Entre sociólogos, antropólogos e urbanistas, existe um consenso, a cidade não é neutra, ela disciplina o olhar, impõe formas de se mover e de se expressar.
Segundo Charles Landry em seu livro "Teoria da Cidade Criativa" a densidade urbana, o nível de diversidade cultural e até mesmo a forma como os bairros se distribuem influenciam na forma como uma pessoa pensa soluções criativas no dia a dia.

Cidades que promovem encontros espontâneos entre diferentes grupos, como é o caso do Rio e suas ruas de esquina viva, tendem a gerar mais estímulos criativos do que centros urbanos em que o deslocamento depende de carro e em que o isolamento se torna norma.
A teoria do “place-based creativity”, ou criatividade baseada em lugar, reforça isso. Segundo pesquisadores como Richard Florida, autor de The Rise of the Creative Class, o espaço é um agente ativo na formação do pensamento criativo. Ele aponta que áreas urbanas com história preservada, arte de rua, mistura de classes e acesso à cultura formam o ecossistema ideal para que ideias se transformem em projetos.
Um bairro no centro de SP não é o mesmo que o Centro do Rio de Janeiro. O litoral paulista não vive as mesmas experiências que cidades no litoral capixaba. E isso se reflete nos estilos, nos códigos, nas formas de expressão visual que circulam por ali.

Quando se vive em uma cidade projetada apenas para o progresso industrial e econômico, a criatividade se adapta para atender demandas, destinando a imaginação para uma outra visualização de mundo.
Tudo isso contribui para uma lógica de produção que em certas vezes inibe a experimentação e o improviso, ou até mesmo, cria distâncias entre o pensamento criativo e a sobrevivência.
O nordeste por exemplo, desde que me entendo por gente, sempre tive um contato muito fácil e quase diário com uma importação gigantesca musical proveniente desse lado do país. E durante essa mesma viagem me peguei pensando, como tudo que eu ouço de lá chega com tanta facilidade mesmo estando a nem sei quantos quilômetros de distância?
E não só o fator de entrega dos produtos, da cultura, mas sim de como o que é criado lá soa tão único, qual é o ar que tem por lá que não chega aqui e faz com que existam tantos artistas revolucionários?
Essa ideia de como os locais influenciam, é um convite para explorar novos visuais, locais, conhecer novas pessoas e ter um acesso tão valioso que é estar em um lugar que conta novas histórias.
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