Christo Vladimirov Javacheff: o homem que embrulhou o mundo

Christo Vladimirov Javacheff nasceu em 13 de junho de 1935, na pequena cidade de Gabrovo, Bulgária, então parte do bloco socialista. Cresceu num país de fronteiras fechadas, num ambiente em que a arte era frequentemente moldada por propaganda política. Mas, desde cedo, o jovem Christo encontrou na pintura e no desenho uma forma de escapar mentalmente dos limites impostos pelo regime.
Estudou na Academia Nacional de Belas Artes de Sofia, onde aprendeu técnicas tradicionais, mas sonhava com algo muito além das telas. No fim dos anos 50, com 21 anos, deixou a Bulgária — primeiro para a Tchecoslováquia e depois para a Áustria —, até chegar em Paris, onde começaria a trajetória que o levaria a mudar a escala da arte contemporânea.

Em Paris, em 1958, conheceu Jeanne-Claude Denat de Guillebon, nascida no mesmo dia e ano que ele, 13 de junho de 1935. O encontro foi mais do que romântico: foi o início de uma das parcerias mais icônicas da história da arte. Juntos, Christo e Jeanne-Claude começaram a desenvolver projetos de grande escala que usavam tecidos, cordas e embalagens para transformar espaços públicos e construções emblemáticas.
A ideia não era apenas estética. Ao “embrulhar” edifícios, pontes, monumentos e paisagens, eles propunham um novo olhar para o que já era conhecido. Por alguns dias ou semanas, o mundo parava para ver algo que sempre esteve ali, mas agora revelado pela ocultação.

Algumas das intervenções mais célebres da dupla se tornaram marcos culturais. Em 1985, o “Pont Neuf Wrapped” cobriu a mais antiga ponte de Paris com tecido bege dourado, transformando o cartão-postal em escultura efêmera. Em 1995, “Wrapped Reichstag” envolveu o Parlamento Alemão em Berlim com 100 mil metros quadrados de tecido prateado, atraindo milhões de visitantes e se tornando símbolo da reunificação do país.
Christo e Jeanne-Claude também trabalharam fora das áreas urbanas. Em “Running Fence” (1976), na Califórnia, instalaram uma cerca de tecido branco de 39 km atravessando colinas até o mar. Em “The Gates” (2005), no Central Park de Nova York, 7.503 estruturas com cortinas alaranjadas transformaram o parque num corredor vibrante, visitado por mais de 4 milhões de pessoas durante 16 dias.

O casal insistia que seus projetos eram autofinanciados, vendidos por meio de esboços, maquetes e estudos originais, sem patrocínios corporativos ou verbas públicas. Isso lhes dava liberdade absoluta para realizar obras sem interferência criativa.
A arte de Christo e Jeanne-Claude sempre foi temporária. As instalações duravam dias ou semanas e, depois, eram desmontadas, com todos os materiais reciclados. Para eles, a brevidade era parte da essência da obra: o fato de existir apenas por um instante tornava a experiência mais intensa.

Christo costumava dizer que, quando uma obra desaparecia, ela continuava viva na memória de quem a viu. O projeto não se esgotava no ato físico, mas se prolongava nas histórias, nas fotografias e nas mudanças de percepção que provocava.
Jeanne-Claude faleceu em 2009, mas Christo continuou trabalhando, fiel à visão que os unia. Entre seus últimos projetos está “The Floating Piers” (2016), no Lago Iseo, na Itália: uma passarela flutuante de 3 km, coberta por tecido amarelo-ouro, que permitia às pessoas caminhar sobre a água. Em 2019, realizou em Londres “The London Mastaba”, uma pirâmide de 7.506 barris flutuando no lago do Hyde Park.

Christo faleceu em 31 de maio de 2020, em Nova York, aos 84 anos, pouco antes da conclusão de “L’Arc de Triomphe, Wrapped” em Paris, que foi realizada postumamente em 2021, cumprindo um desejo antigo do casal.
Hoje, sua obra é vista como um dos exemplos mais potentes de como a arte pública pode ser grandiosa sem ser permanente, transformando o espaço urbano e natural em acontecimento coletivo.








Tem um projeto ou conteúdo que merece ser visto?