A Ascensão e Queda de The Mid Night Club: O grupo clandestino de corridas mais famoso do mundo

Nos anos 80, as corridas clandestinas movimentaram o Japão, trazendo algo bem diferente do que rolava antes. Enquanto o pessoal do drift dominava a cena, surgiu um grupo que curtia turbinar carros ao máximo. Esse grupo, o The Mid Night Club, era muito exclusivo e só entrava quem era convidado.

Os membros eram principalmente empresários e gente rica que gostava de velocidade, adrenalina e ficar no anonimato. O processo para entrar não era fácil: só pilotos muito bons eram aceitos. Todo novato passava por um ano de teste, tendo que aparecer em todos os encontros secretos, que eram combinados por um sistema de mensagens codificadas bem esperto.

O jeito como eles organizavam os encontros mostra como o clube era esperto. O líder dizia, na reunião anterior, que tipo de anúncio os membros deveriam procurar nos jornais locais. Esses anúncios tinham mensagens secretas com data, hora e local do próximo evento, tipo:

"À venda: bolsas pequenas com desconto. Para mais informações, encontro no estacionamento Daikoku na quinta-feira, entre 23 h e 2 h."

Essa mensagem aparentemente normal dizia aos membros que o encontro seria no estacionamento Daikoku, lugar famoso das corridas noturnas em Wangan.

Uma coisa importante sobre o clube: raramente tinha mais de 30 pessoas e eles seguiam regras rigorosas para não colocar o público em risco. Meio contraditório, né? Afinal, o que eles faziam já era perigoso por natureza.

Para participar, seu carro tinha que ser capaz de atingir pelo menos 250 km/h. Mas se seu carro só chegava a isso, você ficava lá atrás, porque o clube corria na rodovia Wangan entre Tóquio e Yokohama a mais de 300 km/h (ou 190 mph).

Os membros aceitos colavam um adesivo cinza nos carros, um símbolo de status que caso alguém ousasse falsificar, tinham seus carros vandalizados.

Entre os carros mais famosos do clube, tem o lendário Yoshida Special 930. Esse carro pertencia a um cara que, dizem por aí, largou a faculdade de medicina para tocar os negócios da família. O carro era o suprassumo da engenharia automotiva, com investimentos de cerca de US$ 2 milhões só em melhorias de desempenho.

Para quem curte mecânica, o Yoshida Special 930 Turbo tinha especificações de arrepiar: motor 3.6 L stroked turbo flat six que, segundo as estimativas, soltava entre 650 e 700 cavalos.

A frota do clube tinha de tudo: desde italianos exóticos como Lamborghini Countach e Ferrari Testarossa até os queridinhos japoneses como Nissan 300ZX, Nissan GTR, Toyota Supra e Mazda RX-7.

Como esses carros eram muito mais potentes que os da polícia japonesa, que não passavam de 177 km/h, o The Mid Night Club praticamente não tinha com o que se preocupar em Wangan, uma rodovia com longos trechos retos e pouco movimento à noite.

Ainda nos anos 80, o clube ficou tão exposto na mídia que perdeu aquele ar underground, aparecendo em revistas especializadas e inspirando o mangá Wangan Midnight.

Esse reconhecimento cultural acabou resultando, no início dos anos 2000, na criação da série Midnight Club pela Rockstar Games. Com uma jogabilidade mais arcade, essa série competia diretamente com o famoso Need for Speed, contribuindo para o que muita gente considera a era de ouro dos jogos de corrida.

A experiência desses jogos ainda está na memória de quem joga, especialmente aqueles que hoje tem entre 20 e 30 anos. Lembranças como a trilha sonora memorável do game escolhida a dedo, a emoção de desbloquear novos carros especiais nas corridas de rua em Detroit, e jogabilidade maluca como dirigir o carro só com duas rodas no chão.

Apesar do sucesso, a franquia da Rockstar não durou muito, acabando depois de quatro jogos. Um fim que, curiosamente, lembra o fim prematuro do próprio clube que a inspirou.

O The Mid Night Club acabou de um jeito trágico, depois de um confronto com membros da gangue japonesa Bōsōzoku em Wangan. A perseguição em alta velocidade causou um acidente grave em uma área movimentada, matando dois Bōsōzoku e mandando oito pessoas para o hospital, seis civis e dois membros do clube.

Com os riscos óbvios para a segurança pública e toda a comoção social, o The Mid Night Club foi oficialmente fechado. Os carros foram escondidos ou destruídos, e os membros ficaram longe uns dos outros até 2020, quando rolou um encontro comemorativo.

Esse retorno, veio, porém com uma filosofia totalmente diferente: nada de corridas de rua em alta velocidade ou rivalidades antigas. O grupo reformulado decidiu promover atividades automobilísticas responsáveis, focando em provas de tempo e circuitos oficiais de corrida. Essa mudança reforça o princípio que, ironicamente, sempre guiou o clube: a preocupação com a segurança pública - justamente o que levou ao seu fim no final dos anos 90.